Uma mobilização em torno da jornada de trabalho está gerando um intenso debate nas redes sociais e chamando a atenção para a possibilidade de revisão de direitos trabalhistas previstos na Constituição. Essa discussão ganhou força com a proposta da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) de reduzir a jornada de trabalho para 36 horas semanais sem redução salarial, provocando reações diversas no cenário político e econômico.
A proposta de Hilton surgiu em meio à crescente insatisfação com a escala de trabalho 6×1, comum no comércio, em que o trabalhador cumpre seis dias de expediente para ter apenas um dia de folga.
“Se você ainda não sabe o que é essa tal de escala 6×1, ela é uma escala de trabalho permitida pela nossa legislação na qual se trabalha 6 dias seguidos, e se folga apenas um dia por semana”, diz Hilton em uma postagem no X.
Em suas redes sociais, a deputada Erika defendeu que essa escala “é incompatível com a dignidade do trabalhador”, apontando que limita o tempo para atividades pessoais e familiares.

Deputada Erika Hilton.
“Isso tira do trabalhador o direito de passar tempo com sua família, de cuidar de si, de se divertir, de procurar outro emprego ou até mesmo se qualificar para um emprego melhor. A escala 6×1 é uma prisão, e é incompatível com a dignidade do trabalhador.” Disse a deputada.
A campanha pelo fim da escala 6×1 foi amplificada pelo movimento “Pela Vida Além do Trabalho”, liderado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), que viralizou com vídeos criticando as condições de trabalho. Azevedo, ex-balconista de farmácia, usou sua experiência pessoal para alertar sobre os impactos dessa escala. Seu movimento já reuniu mais de 2 milhões de assinaturas em um abaixo-assinado online.
“Quando é que nós da classe trabalhadora iremos fazer uma revolução nesse país contra essa escala 6×1? Gente, é uma escravidão moderna. Moderna não: ultrapassada”, diz Azevedo no vídeo.
“Eu que não tenho filho, que não tenho nada, que sou sozinho, não dá para fazer as coisas. Imagina quem tem filho, quem tem marido, quem tem casa para cuidar”, disse.

Rick Azevedo fundador do movimento ‘Fim da escala 6×1″.
“A pessoa tem que se doar para a empresa seis dias na semana e só um dia para folgar. E isso por salário mínimo. Gente, não dá.” Concluiu Rick Azevedo.
Enquanto artistas como Luana Piovani se manifestam favoravelmente à proposta, influenciadores como Léo Picon questionam a viabilidade econômica da ideia, chamando-a de “populista” e apontando outros fatores que impactam a qualidade de vida dos trabalhadores, como o tempo de deslocamento e altos impostos.
O governo também se posicionou sobre o assunto. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, destacou que questões relacionadas à escala devem ser discutidas em convenções coletivas, mas considerou possível uma redução para 40 horas semanais.
“O Ministério do Trabalho entende que a questão da escala de trabalho 6×1 deve ser tratada em convenções e acordos coletivos de trabalho. A pasta considera, contudo, que a redução da jornada para 40 horas semanais é plenamente possível e saudável, quando resulte de decisão coletiva.” Informou o Ministro do Trabalho.

O vice-presidente Geraldo Alckmin.
O vice-presidente Geraldo Alckmin ponderou que a redução da jornada é uma tendência global que merece ser debatida pela sociedade e pelo Congresso.
“Isso não foi ainda discutido, mas acho que é uma tendência no mundo inteiro. À medida que a tecnologia avança, você pode fazer mais com menos pessoas, você ter uma jornada melhor. Esse é um debate que cabe à sociedade ao parlamento a sua discussão”, afirmou Alckmin.
A discussão promete seguir aquecida, refletindo as tensões entre as demandas por melhores condições de trabalho e as preocupações com possíveis impactos econômicos.