Com tradição existente há 24 anos, religiosos de matriz africana, que residem em Maricá, foram impedidos no último sábado (14) de realizar a tradicional lavagem das escadarias da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, no Centro de Maricá. O autor da proibição foi o padre Max Celestino Sales de Almeida, responsável pela igreja.
A tradição consta no calendário oficial de eventos do município, desde a promulgação da lei n° 2512/14 e é realizada a mais de duas décadas. Porém, neste ano, os fiéis fizeram apenas um cortejo e lavaram a calçada da paróquia.
O padre Max Celestino, explicou por meio de um ofício, que o evento ‘Lavagem da Escadaria: Um Pedido de Paz ao Mundo’ , não condiz com a fé cristã católica, sendo assim, não poderia ser realizado na escadaria da igreja.
“Os fiéis dessa paróquia, há alguns anos, vêm demonstrando descontentamento por tal atividade ser realizada nas escadarias da Matriz”, diz.
A decisão do padre teve grande repercussão e líderes de religiões de matriz africana e fiéis, expuseram nas redes sociais a insatisfação com o veto da tradição.
Dofona Mãe Simone de Iemanjá afirma que o evento, idealizado pela Forma, instituição presidida pelo Babalorixá Jonas Liminha de Maricá, tem a lei ao seu lado para garantir o direito de realização da prática, além do apoio da Secretaria de Assuntos Religiosos.
”Não tivemos acesso às escadarias, como nos outros anos, pois agora foi colocado um portão no final das escadas. Queria deixar registrado o meu descontentamento e a minha indignação com essa falta de respeito pelos nossos. Nossa religião é de acolhimento e respeita todas as outras. Eu lamento demais a postura que foi tomada de desrespeito e desagregação”, desabafou.
O organizador do evento, Antônio Jonas Chagas, o Pai Liminha (Babalorixá Jonas de Jagun), que preside a Fonte para Orientação Religiosa das Matrizes Africanas (Forma), confirmou o fato de que o padre deixou os portões fechados para que não tivessem acesso à escadaria.
“Nenhum pároco tinha se posicionado oficialmente contra, mas isso só nos fortaleceu. O evento tomou proporções extraordinárias, agregando pessoas comuns que ali passavam e que comungaram conosco nossa fé, cantando dançando e batendo palmas. Enfim, o saldo foi positivo”, expõe.
O falecido padre Manuel Rodrigues da Cruz, responsável pela paróquia em 2006, estabeleceu um documento, onde expressava a permissão da lavagem da escadaria da Matriz de Nossa Senhora do Amparo.
”Se estiver livre, poderei abençoar com água benta todos os presentes”, ressaltou.
A Prefeitura de Maricá expressou por meio de uma nota, que um ofício foi transferido ao Padre Max Celestino Sales de Almeida, através da Coordenadoria de Assuntos Religiosos, solicitando um esclarecimento pela não abertura do portão no dia da ‘24ª Lavagem da Escadaria: Um pedido de Paz ao Mundo’.
De acordo com a prefeitura, o evento consta no calendário oficial do município e tem o apoio da administração.

Ofício escrito pelo padre Max Celestino Sales de Almeida, atual responsável pela Paróquia Nossa Senhora do Amparo, no Centro de Maricá.