No último domingo (30), uma jovem de 22 anos foi foi estuprada após ser deixada desacordada na calçada por um motorista de aplicativo em Belo Horizonte, Minas Gerais. A vítima havia estado em um show do cantor Thiaguinho com amigos e colegas de trabalho no Mineirão, no sábado (29). Relatos indicam que ela consumiu uma grande quantidade de bebidas alcoólicas e, na hora de ir embora, um amigo chamou um carro de aplicativo usando o celular dela e compartilhou o trajeto da viagem com o irmão da mulher, que estava em casa.
Segundo a Polícia Militar, as câmeras de segurança registraram o momento em que o carro chegou ao endereço da vítima. Depois de um tempo, o motorista desceu e tocou o interfone, mas ninguém atendeu. Ele ligou no celular do irmão dela e tocou novamente a campainha, sem ter retorno. Depois de um tempo, ele voltou e chamou no prédio, mas ainda não foi atendido.
“Em casos como este em que o passageiro passa mal, os motoristas, como cidadãos, devem acionar o socorro médico, no caso o Samu ou levar a um pronto-socorro. Neste caso, ele aceitou o transporte da passageira e ela desfaleceu no carro. Ele jamais deveria abandonar a própria sorte, em uma calçada, de madrugada”, explica o delegado Saulo de Tarso Castro.
Cerca de 5 minutos depois, um homem desconhecido passou pelo local e, ao perceber a jovem desacordada, a carregou nas costas e a levou embora. O acusado a carregou para dentro de um campo de futebol da região e foi visto saindo, aproximadamente, três horas depois sem a jovem. A vítima só foi encontrada na manhã seguinte, quando moradores da região chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para socorrê-la.

A vítima foi levada para o hospital por seus familiares, onde exames confirmaram o abuso sexual. Diante disso, ela formalizou uma denúncia na Delegacia de Plantão de Atendimento à Mulher.
As investigações levaram à identificação e prisão em flagrante do suspeito de cometer o crime. O homem de 47 anos foi localizado graças às imagens das câmeras de segurança próximas ao local do incidente, que foram fundamentais para sua captura. O acusado alegou ter encontrado a jovem desacordada e ter tentado levá-la para um local seguro, negando qualquer envolvimento no abuso sexual. Ele está sob custódia e passará por uma audiência para determinar sua permanência no sistema prisional.
Enquanto isso, o motorista de aplicativo que deixou a vítima na rua ainda não foi localizado pelas autoridades. A empresa ’99’ divulgou uma declaração lamentando o ocorrido após a conclusão da corrida e informou que bloqueou preventivamente o motorista em questão.
O delegado Saulo de Tarso Castro reforça que o condutor do veículo deve ser responsabilizado, já que a vítima estava sem condições de responder por si, e a família da jovem pode procurar a justiça e mover uma ação cível tanto contra o motorista como também contra a empresa.
“Diante de uma situação de transporte de passageiros, há um compromisso com o passageiro. Do ponto de vista cível, pode ter havido algum tipo de ilícito por parte do motorista”, afirma. “Sob o ponto de vista criminal, o que parece é que há um abandono de incapaz. Um crime previsto no artigo 133, cuja pena de detenção é de seis meses a três anos de prisão. Ela estava desacordada e sem condições de se defender, de ter reação”, diz.
A pesquisadora Lívia de Souza, do grupo “Violências, Gênero e Saúde” da Fiocruz em Minas Gerais, apontou uma sucessão de erros graves que levaram a esse crime. Desde o amigo que a deixou sozinha até o motorista que não prestou a assistência necessária, uma série de negligências resultou no terrível acontecimento.