Com a proximidade da Black Friday de 2025, o comércio eletrônico ganha força — e os golpes virtuais também. A antecipação de ofertas e o aumento da circulação de links promocionais criaram um ambiente favorável para criminosos, que agora utilizam recursos de inteligência artificial para produzir páginas falsas mais convincentes, mensagens sem erros e layouts idênticos aos de grandes varejistas. O alerta é de especialistas em crimes digitais, juristas e do Procon-RJ, que observam um avanço significativo na sofisticação das fraudes.
Entre os golpes mais comuns está a criação de sites falsos que imitam redes varejistas conhecidas e oferecem produtos a preços muito abaixo do mercado. “Os criminosos aproveitam o aumento das compras online para aplicar golpes que parecem irresistíveis”, afirma o especialista em crimes cibernéticos Rodrigo Fragola. Ele destaca que links compartilhados em redes sociais e grupos de WhatsApp continuam sendo a principal porta de entrada para vítimas.
O Procon-RJ reforça que grande parte desses golpes ocorre por meio de URLs camufladas, construídas com caracteres invisíveis ou letras de outros alfabetos. Segundo Fragola, golpistas conseguem até substituir letras por combinações semelhantes — como transformar o “M” em “R” + “N” — tornando os endereços falsos quase impossíveis de identificar a olho nu.
Perfis falsos, PIX suspeito e phishing continuam em alta
Os golpes de phishing — mensagens que fingem ser de bancos ou varejistas para roubar dados pessoais — seguem crescendo. Avisos falsos de “pedido bloqueado” ou “compra suspeita” vêm acompanhados de pedidos de CPF, número de cartão, códigos ou senhas, algo que empresas legítimas jamais solicitam.
Perfis novos, sem comentários e com poucas publicações também são sinais de alerta. Em quase todos os golpes analisados, há um ponto em comum: o pedido de pagamento via PIX para contas de pessoas físicas.
“Se pedirem pagamento via PIX para um CPF desconhecido, mesmo dizendo ser de uma grande loja, desconfie imediatamente”, reforça Fragola.
Como se proteger
Digitando o endereço manualmente no navegador, verificando o cadeado de segurança, checando o “https” e confirmando o CNPJ, o consumidor já reduz grande parte dos riscos. Para a especialista em direito do consumidor Carla Simas, outras medidas são essenciais: “Ativar o duplo fator de autenticação, evitar salvar cartões em sites pouco conhecidos e desconfiar de preços muito abaixo da média.”
O Procon destaca ainda que sites sem identificação clara — como CNPJ, endereço e canais de atendimento — devem ser considerados suspeitos. A orientação vale também para compras em Wi-Fi público, que aumenta o risco de interceptação de dados. Sempre que possível, o ideal é usar a rede móvel ou uma VPN.

Golpes também atingem marketplaces e aplicativos falsos
Embora mais seguros, os marketplaces não estão livres de fraudes. Por lei, plataformas respondem solidariamente quando intermedeiam vendas fraudulentas. Assim, o consumidor pode cobrar ressarcimento diretamente do marketplace mesmo quando o vendedor é terceiro.
Simas orienta que o comprador avalie a reputação do vendedor, leia avaliações recentes e confirme a existência de CNPJ antes de fechar negócio.
Outro golpe em alta é o do falso suporte técnico: criminosos se passam por funcionários de bancos e empresas de tecnologia para pedir senhas, códigos ou acesso remoto ao celular. Aplicativos falsos que imitam bancos e carteiras digitais também têm sido utilizados para capturar logins e senhas, reforçando a importância de baixar apps apenas em lojas oficiais.
O que fazer ao cair em um golpe
A recomendação é agir imediatamente: comunicar o banco, registrar boletim de ocorrência, guardar provas e acionar o Mecanismo Especial de Devolução (MED) no caso de PIX. Reclamações podem ser registradas no Procon e no consumidor.gov.
Documentos como prints da oferta, comprovantes, descrição do produto e conversas com o vendedor são fundamentais para processos administrativos ou judiciais. Se o produto não chegar no prazo, o consumidor pode exigir entrega imediata, item equivalente ou reembolso total — sempre corrigido.
“A escolha é do consumidor, e não da loja”, destaca Carla Simas. Em casos de má-fé ou descumprimento reiterado, cabe indenização por danos materiais e morais.
Ações de fiscalização
A Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e o Procon-RJ iniciaram a distribuição de uma “Recomendação Conjunta” aos varejistas, reforçando regras de transparência, condições de venda e obrigatoriedade de disponibilizar o Código de Defesa do Consumidor. Fiscais percorrem shoppings e centros comerciais e prometem rigor: maquiagem de preços, publicidade enganosa e outras práticas abusivas resultarão em autuações.
Segundo o secretário Gutemberg Fonseca, o objetivo é prevenir problemas, mas a fiscalização será firme. O Procon-RJ também poderá exigir o histórico de preços de produtos com descontos fora do padrão.
Com a chegada da Black Friday, o recado das autoridades é direto: desconfiar sempre, verificar a autenticidade das páginas, comparar preços e evitar compras impulsivas — especialmente diante de ofertas “imperdíveis” que surgem do nada.
