O governador Cláudio Castro (PL) reconheceu nesta terça-feira (28) que o enfrentamento ao crime organizado no Rio de Janeiro superou a capacidade de resposta das forças estaduais de segurança. A declaração foi feita após uma megaoperação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte da capital, que terminou com 18 suspeitos, 86 crimonosos presos e 64 criminosos mortos. No embate quatro policias também foram mortos, além de treze agentes feridos.
Segundo o governador, o atual cenário de violência no estado exige reforço federal, especialmente com o envio de veículos blindados e suporte logístico das Forças Armadas — solicitações que, segundo ele, foram negadas três vezes pela União.
“Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com Segurança Pública. É uma operação de Estado de Defesa. É uma guerra que está passando os limites de onde o Estado deveria estar sozinho defendendo. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com segurança urbana, deveríamos ter um apoio maior e até das Forças Armadas. O Rio está sozinho nessa guerra”, afirmou Castro.
O governador concordou com a avaliação da porta-voz da Polícia Militar, que havia alertado, na véspera, que a disputa entre facções criminosas já ultrapassou os limites de atuação das forças estaduais. Ele criticou o que chamou de “política de não ceder” por parte do governo federal e explicou os entraves para a liberação de blindados militares.
“Disseram que era preciso uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Depois, que poderiam emprestar os veículos, mas voltaram atrás porque o servidor que os opera é federal e precisaria da GLO — e o presidente é contra a GLO. Entendemos que essa é a realidade e não vamos ficar chorando pelos cantos”, declarou.
Apesar das críticas, Castro afirmou que não pretende transformar o tema em disputa política. “Precisamos de integração, não de embate. É uma luta que extrapolou toda a ideia de segurança pública e está prevista na Constituição, quando se trata de armas que vêm do tráfico internacional”, completou.
Estado de alerta
Após a operação, o governo do Rio colocou todas as forças policiais em estado de prontidão diante da possibilidade de retaliações de traficantes. “Estamos em atenção e alerta para possíveis retaliações. A polícia está toda na rua, e todos os batalhões estão de prontidão. Houve relatos de tentativas de bloqueio na Avenida Brasil e em outras vias”, disse Castro.
Fontes da área de segurança confirmaram que há monitoramento intensivo para evitar novos confrontos e bloqueios em represália à ação policial.
Megaoperação contra o Comando Vermelho
A operação, que começou nas primeiras horas da manhã, teve como alvo o Comando Vermelho (CV), facção que, segundo as investigações, vem expandindo sua atuação e recrutando criminosos de outros estados. Participaram cerca de 2,5 mil agentes, com apoio aéreo e de unidades táticas, para cumprir dezenas de mandados de prisão contra lideranças do tráfico.
No total, 56 pessoas foram presas, e foram apreendidos 31 fuzis, granadas, pistolas e rádios comunicadores. Entre os mortos, a polícia identificou dois suspeitos oriundos da Bahia, supostamente ligados à expansão interestadual do CV.
De acordo com o Ministério Público do Rio (MPRJ), os alvos vinham sendo monitorados há meses. O Complexo da Penha e o Complexo do Alemão são considerados estratégicos para a facção, servindo como eixo de distribuição de armas e drogas para a Baixada Fluminense e o interior do estado.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que a ação buscou “desmantelar o núcleo de liderança e logística da maior facção criminosa do estado” e destacou que os resultados representam “um golpe significativo nas estruturas de poder do tráfico”.
Enquanto isso, o clima de tensão permanece nas comunidades e em diversas áreas da cidade. O governo reforçou o policiamento em vias expressas, como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, e determinou a permanência de patrulhas em pontos estratégicos ao longo da semana.