Pedro Henrique, um menino de apenas 11 anos, morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foi agredido pelos colegas de sala de aula após uma brincadeira proposta pela própria professora durante a chamada. A educadora pediu que os alunos dessem cascudos em quem não soubesse responder falando algum meme. Pedro Henrique, que não conseguiu citar nenhum meme, levou pancadas de aproximadamente 19 colegas, deixando hematomas por toda a cabeça.
“Meu filho não sabe nem o que é ‘mocão’, cascudo e quando foi ver, já estavam explodindo cascudos na cabeça dele. Meu filho está cheio de lesão na cabeça, galos. Meu filho está a três dias sem dormir, eu não estou conseguindo acreditar que uma professora, se é que pode se chamar de professora, promoveu essa brincadeira. Ela incentivou e ficou rindo de tudo. Tem garotos na sala do meu filho, de 12, 13 anos, que dão dois do meu filho. Eu quero justiça, eu deixei meu filho naquela instituição bem, saudável e entregaram meu filho com a cabeça toda lesionada”, disse.
O caso aconteceu na Escola Municipal Professora Graça Grijó e outras crianças também foram agredidas. O pai da vítima registrou o caso na 64ª DP (São João de Meriti).
A família do menino compareceu à delegacia e realizou o exame de corpo de delito, que constatou as lesões. O delegado Bruno Enrique Abreu, titular da distrital, recebeu depoimentos de familiares, da professora e da diretora da escola na quinta-feira (27).
“A criança veio à delegacia de polícia junto com o seu responsável e nós encaminhamos ao Instituto Médico Legal. O exame já foi feito e, conforme consta no laudo, o aluno sofreu uma pequena tumefação traumática na região parietal bilateral, ou seja, trazendo assim a materialidade para o fato”, explicou o delegado Bruno Enrique Abreu.
O pai do menino, Claúdio Lins, informou que o filho tem sentido dores e tendo dificuldade para dormir, além de que irá ter que realizar uma tomografia na cabeça.
“Eu esperava que quando entraram em contato conosco (iam perguntar): ‘o Pedro está bem, está se recuperando? Nem isso. Eu quero justiça, só isso, que ela pague pelo que ela fez. Meu filho está cheio de dor, hoje que ele conseguiu dormir um pouquinho, porque ele não tem nem posição direito para botar a cabeça no travesseiro, fora o trauma. Como vai ficar a cabeça do meu filho? Ele tem que ‘bater uma chapa’ para ver como está por dentro e eu não tenho condições financeiras para fazer uma tomografia. Ninguém me ligou para oferecer ajuda, assistência nenhuma, nem psicológica, absolutamente nada”, desabafou o pai.
Outras crianças também foram vítimas de violência durante uma dinâmica proposta pela professora. Segundo relatos, outros alunos também receberam cascudos, mas tiveram medo de contar aos pais. Uma mãe descobriu que sua filha havia sido agredida apenas quando o pai do menino agredido a procurou para relatar o ocorrido. A menina sentiu dores de cabeça, enjoos e teve desarranjo intestinal por conta do nervosismo com a situação.
“Eles vieram ontem me contar como tinha sido a situação, que foi uma coisa grave, realmente uma agressão pesada, não foi uma brincadeirinha boba. Eu perguntei para minha filha se ela tinha agredido alguém e ela disse que não tinha agredido ninguém. Meu esposo perguntou por que ela não tentou se defender e ela disse que se tentasse, ia apanhar mais ainda. Foi uma coisa que deixou a gente chocado. A questão é como vai ficar o psicológico dessas crianças”, disse a mãe da menor, que também se queixou da omissão da escola, por não ter comunicado os responsáveis.
“É surreal acreditar em uma coisa dessa, a história de todos eles está batendo, foi a professora que idealizou a brincadeira, a professora que autorizou as mocas e houve espancamento dos alunos dentro da sala, com professora vendo e não fez nada (…) A escola foi omissa, foi de um desleixo, tanto com os alunos, quanto com a gente, enquanto pais, por não ter dado suporte para a gente. A diretora nem apareceu para falar com a gente, em nenhum momento quis dar uma satisfação. A escola tem o WhatsApp de todos os pais, então não é falta de contato, foi realmente vontade de abafar esse caso”, completou.
O delegado afirmou que a direção da escola e a educadora foram intimadas a prestar depoimento na delegacia, e que a professora pode ter uma responsabilidade jurídico-penal por ser agente garantidora.
A Secretaria Municipal de Educação de São João de Meriti rescindiu o contrato da educadora assim que tomou conhecimento do ocorrido e afirmou que abriu uma sindicância para apurar todos os fatos.